domingo, 8 de abril de 2012

A MAGIA DO COELHO DE PÁSCOA

Fico entristecida quando vejo o que a sociedade de consumo fez com a festividade da Páscoa. A magia e
 o encanto da Páscoa foram desaparecendo com o progresso, e eu tenho uma saudade daquela maravilhosa festa do coelhinho do meu tempo de criança.  
Na verdade, os preparativos para a Páscoa começavam meses antes, quando as mães usavam os ovos, quebrando, cuidadosamente, somente a pontinha das cascas para aproveitá-las nas cestinhas do coelhinho. Elas eram lavadas, colocadas para secar e guardadas numa cesta. Só de olhá-las já se criava uma expectativa a respeito da chegada do coelho que traria, para cada criança, a cestinha com muitas guloseimas.
Cada casquinha era decorada de várias formas. Podia-se pintá-las com tinta ou anilina, que lhes davam lindas cores vivas, ou podia-se decorá-las com tiras de papel de seda ou crepom picotado.
Era necessário, também, fazer as amêndoas. Comprava-se o amendoim com casca, descascava-se, colocava-se no forno para torrar e tiravam-se as pelezinhas. Fazia-se a calda com açúcar e misturava-se o amendoim. Depois era hora de fazer a cola com trigo e água fervente. Enchiam-se as casquinhas com estas amêndoas e fechava-se com papel crepom colado com a cola de trigo. Faziam-se, também, os ovos cozidos coloridos com anilina.
Também se faziam as cestas de Páscoa, usando papelão e papel colorido picotado e encrespado, serviço que os pais faziam à noite ouvindo rádio, enquanto as crianças dormiam. Algumas crianças tinham cestinhas de vime, que eram reaproveitadas a cada ano.
A Semana Santa era um tempo de recolhimento e oração, de abstinência e jejum. Quinta- feira era dia de ir à igreja para a cerimônia do lava-pés e sexta-feira se acompanhava a procissão do Senhor Morto. Durante o dia ouvia-se, no silêncio das ruas, o toque das matracas. Sábado era o dia de malhação do Judas. Os jovens e as crianças se divertiam botando fogo num boneco de pano.  
No domingo de Páscoa, de madrugada, a família se preparava para ir à missa da Ressurreição na Igreja Matriz. Todos trajando roupa de domingo caminhavam pela neblina sentindo aquele friozinho de outono. As crianças ficavam contando o tempo para terminar aquele compromisso, voltar para casa e encontrar a cesta do coelho. Não viam a hora de começar a comer aquelas guloseimas. Chegando em casa, era uma alegria só.  Corriam para o quintal a procura da cesta que o Coelho deixara. Cada um que a encontrava dava gritos de alegria. Todos entravam em casa com as cestas cheias de casquinhas com as amêndoas, os ovos cozidos e alguns chocolates, guloseimas estas que se comiam somente no Natal e na Páscoa. O clima era de total magia naquele dia de um tempo maravilhoso que não volta mais. 
Era um tempo muito diferente da Páscoa que a sociedade de consumo criou hoje para ativar o comércio. As crianças são levadas aos supermercados para escolher seu chocolate preferido. Os ovos e os coelhinhos de chocolates não têm mais o significado que encantavam as crianças do meu tempo.Tudo era tão simples, mas carregado de afeto.
Agora, os pais trabalham fora, se sentem cansados para se dedicarem à confecção de uma cestinha especial que daria um toque de encantamento para alegrar seus filhos num dia tão especial.
Acabou-se a magia da espera da Páscoa e a surpresa das cestinhas cheias de guloseimas trazidas pelo Coelho.

Um comentário: